ETAPAS VITAIS DO CÃO DOMÉSTICO
Este é um artigo que se reveste
de primordial importância para os criadores, mas não deixa de ser interessante
para todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, estão ligados aos cães das
mais variadas maneiras; criadores, proprietários, adestradores, veterinários ou
simplesmente amantes e estudiosos do fenômeno canino.
Há duas fases da vida do
cachorro que considero de extrema importância para o desenvolvimento da
estrutura mental do futuro cão: as fases do imprinting e da socialização.
É nestes dois períodos da vida do cachorro que é definido o cão que iremos ter
no futuro: se são mal executadas teremos um exemplar cheio de problemas de
índole social, se forem bem conduzidas é certo que seremos recompensados com
cães alegres, extrovertidos e bem integrados na sociedade.
Decidi, para melhor compreensão
dos leitores, estruturar cronologicamente o artigo, iniciando a descrição das
referidas etapas no nascimento do cachorro:
Período neonatal (nascimento até a 2ª semana)
- 90% do tempo investido na
alimentação e no sono.
- Estimulação materna da zona
ano-genital com finalidade de induzir a micção e a defecação dos cachorros.
Período de transição,
critico ou “Imprinting” (3ª e
4ª semanas)
- Inicia-se a independência nas
condutas de eliminação.
- Inicio dos comportamentos
lúdicos e exploratórios.
- Inicio do processo de
“Imprinting”
.
“Imprinting”
Conceito lançado pela primeira
vez pelo naturalista Austríaco Konrad Lorenz (1903 – 1989) Prêmio Nobel da
Medicina em 1973 e considerado o pai da Etologia Moderna. Ele demonstrou que,
no trabalho que realizou com gansos, estes seguiriam o primeiro objeto em
movimento que encontrassem no seu meio envolvente, mal saíssem dos ovos,
ocorrendo assim uma ligação social entre o pequeno ser e o objeto ou organismo
que eles vissem em primeiro lugar. Foi o caso da experiência realizada pelo
próprio Konrad Lorenz que ao criar uma ninhada de gansos cinzentos desde a
oclusão dos ovos, os pequenos gansos o tomaram como sua mãe, seguindo-o incondicionalmente
e, mesmo depois de se tornarem adultos, manifestaram sempre maior preferência
por ele do que pelos outros gansos.
O comportamento de um animal,
de qualquer animal, é o resultado da interação de dois fatores fundamentais: a genética
e o meio ambiente, e em muitos casos é quase impossível separar o
aspecto filogenético (Incluído no seu material genético. Herdado) do
ambiental. Um dos exemplos mais curiosos dessas influências no referido
comportamento animal é o chamado “imprinting” (estampagem ou impregnação
em português, apesar do termo, em si ser intraduzível).
O imprinting é a
primeira e mais duradoura forma de aprendizagem. Graças a ela, o animal aprende a ser membro da sua espécie,
enquanto estabelece relações com os de outra.
Em todas as espécies existe um
período, denominado período crítico, durante o qual o fator ambiental é
mais susceptível de influenciar o comportamento e é nesse espaço de tempo da
vida do animal que a ação do imprinting resulta particularmente intensa e
duradoura, tendo grande importância no desenvolvimento dos padrões
ontogenéticos (desenvolvidos durante o período de vida do animal) ou
vitais.
O período crítico não é
o mesmo em todas as espécies. Nas aves, por exemplo, por pertencerem a espécies
precociais (espécies de rápido desenvolvimento. Necessitam de poucos
cuidados parentais. Contrário de espécies altriciais), o referido período
emerge logo nas primeiras horas depois do nascimento. Nos canídeos esse espaço
de tempo inicia-se à terceira semana de vida, quando os cachorros começam a
abrir os olhos, e a ouvir.
É importante que, nesta fase, a
mãe esteja presente na altura do desenvolvimento sensorial dos cachorros, pois
será ela o primeiro elemento que eles verão e será nela que se fixarão como
pertencentes a uma determinada espécie.
Para a mãe também é
extremamente importante esta fase, pois o desenvolvimento do comportamento
maternal da fêmea está caracterizado pela aparição de um período sensível em
que ela aprende a reconhecer as suas próprias crias assegurando, desta forma,
que o instinto maternal se mantenha durante a época de amamentação.
Período sensível ou de
socialização. (da 5ª à 12ª semana)
- É o mais importante da vida
do cão.
- Acaba o “imprinting”.
- Começa a exploração
ano-genital e a relação social com os parentes.
- Esta fase acaba quando
observamos uma reação elevada de medo perante um estímulo novo.
- É o momento de começar a
trabalhar as condutas instintivas.
- Inicia-se a socialização
Socialização
Nos canídeos o período de socialização
está compreendido entre as 5 e as 12 semanas. Podemos definir esse período
como o espaço de tempo compreendido entre o início da maturidade
sensorial e a consolidação das estruturas nervosas que controlam a resposta de
medo perante situações novas. É ainda durante este espaço de tempo que
se dá o desenvolvimento sensorial e locomotor do animal e, graças a ele, o
cachorro aprende a deslocar-se, explorar o seu meio envolvente e a interagir
com os demais. Às 12 semanas acaba este período com a primeira demonstração de
medo como resposta a alguns estímulos novos.
Em determinadas espécies, como
os canídeos parece que se produz uma aceitação implícita do humano como
companheiro social em pé de igualdade com os membros da sua própria espécie.
Uma exposição breve durante o período sensível ou de socialização é
suficiente para que se estabeleça uma relação normal com os seres humanos. É
nesta fase que o cachorro deve iniciar o contacto com outros cães e
fundamentalmente, com adultos e crianças. É a altura de colocar o cachorro
perante situações novas parecidas com as que encontrará na fase adulta.
Se até a 14ª semana não se
proceder a esta integração do cachorro na sociedade onde irá viver, este
deixará de responder e o seu futuro comportamento tenderá para a anormalidade.
Esta fase de socialização é
particularmente importante para a vida futura do cachorro e daqueles que com
ele irão conviver. É aqui que se irão lançar as bases que definirão a estrutura
mental e social de um cão. 90% dos problemas comportamentais anômalos e
desviantes de cães que têm chegado ao nosso conhecimento têm origem numa
deficiente, mal conduzida e mal executada fase de socialização.
Período Juvenil. (da 13ª semana à maturidade sexual)
- Desenvolvimento da capacidade
motora.
- Respostas de medo mais
intensas.
- Aumenta a dificuldade de
socialização.
Fase da maturidade.
- Fixação dos padrões de
conduta.
- Aumento da capacidade de
aprendizagem.
- Aparecem os problemas
comportamentais.
Com este artigo espero ter
contribuído para uma melhor compreensão, principalmente por parte dos
criadores, das etapas por que um cão passa desde o seu nascimento à fase
adulta. Apelo aos criadores, a fim de evitar problemas adjacentes, que se
debrucem mais na socialização dos cachorros, preocupem-se
Fundamentalmente
em proporcionar aos cachorros a possibilidade de serem confrontados com todo o
tipo de situações, de ruídos, de dificuldades para ultrapassar, apresentem-nos
a animais da mesma e de outras espécies, etc., para que os problemas que existem
atualmente com a maioria dos cães não se venham a verificar no futuro, não só
para bem deles, mas principalmente para o bem da sociedade. Numa palavra: Dêem
aos cães a possibilidade de serem